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25 de set. de 2010

TIRIRICA PODE SER ELEITO COM QUASE 1 MILHAO DE VOTOS EM CONTRAPARTIDA INDICIOS APONTAM QUE ELE NAO SABE NEM LER E NEM ESCREVER


São Paulo, 23 set (EFE).- Com o slogan “Vote por Tiririca. Pior que tá não fica”, um palhaço que fez carreira no circo e na televisão pode se transformar no deputado com maior apoio popular no Congresso, com quase 1 milhão de votos, se confirmadas as previsões das pesquisas de opiniões.
Francisco Everardo Oliveira Silva, “Tiririca”, nascido em 1965 no Ceará, concorre a uma vaga na Câmara dos Deputados por São Paulo pelo Partido da República (PR) nas eleições de 3 de outubro.
A última pesquisa elaborada pelo instituto Datafolha aponta ao candidato 900 mil votos, que representam 3% dos mais de 30 milhões de eleitores aptos a votar naquele estado.
Se for confirmado esse resultado, Tiririca não só conseguiria uma cadeira, mas se transformaria no deputado mais votado do país dentre os 513 da Câmara, comparável ao resultado obtido há quatro anos pelo candidato mais votado, Paulo Maluf, com 739 mil votos.
POR QUE ?
Analistas políticos atribuem essa elevada taxa ao fenômeno de sempre: o desalento dos eleitores com os políticos tradicionais e a falta de propostas, embora os recém-chegados ao cenário político não tenham muito a dizer.
De seu programa político pouco se sabe além da ideia de lutar pela aprovação de projetos que beneficiem à população do nordeste e defender os trabalhadores da construção dos abusos de seus empregadores.
Igualmente propõe uma lei de incentivos para os espetáculos circenses e promover as atividades culturais nos bairros da periferia.
Também fala vagamente de lutar pela ampliação de programas sociais e criar comissões parlamentares para a defesa dos direitos humanos e a educação.
"CARREIRA"
Sem qualquer tipo de experiência política, Tiririca começou a trabalhar aos oito anos de idade vendendo doces e começou sua trajetória artística como palhaço, equilibrista, malabarista e mago, segundo a biografia postada em seu site oficial.
Mas ele foi mais longe. Nos anos 90 entrou para o cenário musical como compositor, com a música “Florentina”. Tiririca fez ainda participações em programas de humor na televisão.
“Se o senhor tem fé em Deus e trabalha honestamente, consegue seus objetivos. Tenho muita fé em Deus e por isso estou aqui”, afirma o candidato.
Tiririca, quem não se expõem muito em declarações à imprensa, não esconde sua absoluta ignorância sobre o funcionamento das instituições do Estado às quais aspira representar.
“O que faz um deputado federal? Na realidade eu não sei”, diz outro de seus lemas eleitorais.
INDÍCIOS APONTAM QUE O POSSÍVEL DEPUTADO FEDERAL NÃO SABE NEM LER NEM ESCREVER
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De acordo com a Constituição, os analfabetos são inelegíveis e, portanto, não podem se candidatar e receber votos. Por lei, os candidatos são obrigados a apresentar à Justiça Eleitoral um comprovante de escolaridade. Na ausência de comprovante, devem demonstrar capacidade de ler e escrever. Para registrar sua candidatura a deputado federal, Tiririca apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de São Paulo uma declaração em que ele afirma que sabe ler e escrever. Essa declaração, segundo as normas legais, deve ser escrita de próprio punho. Mas Tiririca, de fato, sabe ler e escrever? A suspeita é que não. Vários indícios permitem levantar essa desconfiança.

O humorista Ciro Botelho, redator do programa Pânico da rádio Jovem Pan, diz que escreveu sozinho o livro As piadas fantárdigas do Tiririca em 2006. A publicação é assinada só por Tiririca. Botelho diz que escreveu com base em histórias contadas por ele. “O Tiririca não sabe ler nem escrever”, afirma.

Dois funcionários da TV Record também disseram a ÉPOCA que nos bastidores do programa humorístico Show do Tom, do qual Tiririca participa, é sabido que ele não lê nem escreve. De acordo com Ciro Botelho, o palhaço conta com a ajuda da mulher para decorar suas falas: “A mulher fica no camarim com ele e vai falando o texto. Ele vai decorando e conta do jeito dele”.

A reportagem de ÉPOCA acompanhou Tiririca por dois dias na semana passada. Viu o candidato dar autógrafos com uma grafia bem diferente da que aparece na declaração apresentada ao TRE, com letras redondas. Aos fãs, ele assina um rabisco circular ininteligível e desenha o que seriam as letras do nome de seu personagem. Em duas ocasiões, a reportagem deparou também com situações que demonstram que Tiririca tem, no mínimo, enorme dificuldade de leitura. No dia 21, a reportagem pediu para Tiririca ler uma mensagem de celular. Ele ficou visivelmente assustado diante do aparelho. O constrangimento do candidato só foi desfeito quando uma assessora leu o torpedo em voz alta. Minutos antes, referindo-se às críticas feitas a sua candidatura nos jornais, Tiririca dissera: “Eu não leio nada, mas minha mulher lê para mim”.

No dia 22, ÉPOCA fez um teste com Tiririca. Durante um almoço, pediu a ele para responder a perguntas da pesquisa Ibope sobre o Congresso. As duas primeiras questões foram lidas pela reportagem e respondidas normalmente por Tiririca. Em seguida, foi apresentado ao candidato um cartão para ele ler a terceira pergunta e as alternativas de resposta. Nesse momento, seus assessores o cercaram imediatamente. O filho de Tiririca, Éverson Silva, começou a ler a pergunta para o pai, mas a pesquisa foi interrompida pelos assessores com a alegação de que ele precisava almoçar e que a aplicação da pesquisa não fora combinada previamente. A cena pode ser vista em um vídeo no site de ÉPOCA.




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